ATENÇÃO, PRUDÊNCIA E BOM SENSO
Numa daquelas
conversas num grupo de WhatsApp, começou uma discussão sobre as vantagens e desvantagens
de equipamentos caros para motociclistas. Eu sempre tento ser bem racional, principalmente por não ter recursos ilimitados dos meus colegas deste do grupo.
Dois do grupo
defendiam que os equipamentos caros eram melhores, sejam macacões ou capacetes.
Eu concordei, mas que muitos destes equipamentos traziam embutidos o
valor subjetivo da grife, que não agregava maior segurança. Mas, como ambos
tinham investidos 6.000 reais em equipamentos de segurança, achavam, digamos,
no direito de “obrigar” a todos do grupo a se equiparem a eles.
Eu defendi que
havia opções mais econômicas, que ofereceriam um grau de segurança aceitável. Eu
uso esta segunda opção, embora tenha condições, apertando um pouco o cinto, de
comprar um macacão de couro e um capacete de 1.000 reais. Mas, no alto da minha
pobreza, e com isso, mais racionalidade apelando para a racionalização, tenho
optado por uma proteção de tecido sintético e capacetes de polímeros mais
baratos.
Meu
equipamento de segurança para andar de moto consiste em uma conjunto de calça e
jaqueta da Riffel, modelo Summer; par de luvas Riffel com proteção metatarsal; botas-tênis
de cano curto da Eurox e capacete articulado dual vision Norisk. Total gasto:
1.500 reais.
A primeira crítica
foi sobre capacetes articulados. Partiu de um colega do grupo, dizendo que capacetes articulados não oferecem a mesma proteção dos capacetes simples. Eu
discordei, pois são fabricados por inúmeras marcas e recebem o selo do INMETRO. Caso não oferecem proteção adequada,
não poderiam ser fabricados! Eu nunca ouvi falar que um motociclista morreu
porque seu capacete era articulado.
Quando a
jaqueta e a calça de tecido sintético, foi mais por opção de conforto. São mais
leve que os similares em couro em cerca de 1/3 do peso. No modelo Summer, o
tecido perfurado permite uma boa ventilação a tal ponto que de manhã bem cedo é
comum eu passar frio sobre a moto. A jaqueta vem com proteção nos cotovelos,
ombros e cervical. Não é um “camelo” que tem em macacão de couro, mas oferece
uma proteção razoável. A calça tem reforços nos quadris e proteção nos joelhos.
A crítica é que o couro protege melhor e para justificar eles citam os
motociclistas da MotoGP. Concordo plenamente, mas o fator desconforto (3x mais
pesado) e as ventilações serem menores, além do fato de o ato de vestir um macacão de couro ser um exercício de contorcionismo e o de tirar
um macacão de couro, pior se for de uma peça, ser similar ao ato de esfolar um
animal, mesmo se estiver usando a segunda pele que aumenta mais o desconforto
numa região onde a temperatura durante o dia pode chegar a 35º centígrados. Eu
pensei em me equipar com um macacão de couro, não da marca Alpinestar ou
Dainese, mas um modelo da Texx, que custa a metade do preço. Mas o fator
desconforto falou mais alto e declinei o macacão de couro. Outro detalhe, os corredores de motos não param durante a corrida para ir ao banheiro.
As luvas não
receberam criticas e nem a bota-tênis. Pensei em comprar botas específicas para
andar de moto, e ai veio na minha cabeça que só poderia usar estas botas para
andar de moto, pois se andasse com elas no dia a dia como a bota-tênis, iriam
me internar num manicônio. Para todos os efeitos, acredito que bota-tênis
oferece um bom grau de proteção aos pés do que um tênis de passeio ou sapato
comum. Penso em comprar uma bota-tênis de cano médio, tipo coturno, mais para combinar com o
conjunto de calça e jaqueta de tecido sintético do que visando um aumento de
segurança para as pernas ou pés.
Deixei bem
claro que não condeno quem compra macacão de couro de 4.500 reais, capacetes de
3.000 reais, luvas de 300 reais, botas de 600 reais. É uma questão financeira
que me leva a racionalizar melhor meus recursos. E aí uma deles disse que eu
frisava muito a questão financeira. Eu disse que tudo era questão financeiro.
Eu comprei uma 750 cc e não uma 1.000 cc ou superior por questão financeira, não
comprava uma macacão Alpinestar por questão financeira. Se tivesse condições eu
não teria um Palio Sporting e sim uma BMW Z4. E lhe perguntei o que o impedia
de trocar a CB 1000 R dele por uma S 1000 RR, ele respondeu que era por questão
de “grana” e a discussão acabou.
A outra pessoa
citou que usava um capacete do nível da MotoGP, mas ai eu citei que outro
colega tinha sim um capacete melhor, de fibra de carbono. Aí, disse que o
capacete dele oferecia a mesma proteção e eu retruquei que o dele pesa o dobro da
do colega. E perguntei se ele teria coragem de comprar um capacete de 3.000
reais de fibra de carbono, e ele disse que estava satisfeito com o dele. Ora,
questão financeira e ele se calou sobre este tema.
Não gostamos
de falar de quedas, mas o assunto foi pra esse lado. Eles diziam que minha proteção
não era suficiente para seu sair vivo de um acidente de moto a 220 km/h. Eu disse que é
por isso que andava em velocidade 100 km/h a menos que eles. Caso eu me
acidentasse, poderiam ao menos me reconhecer. Já eles iriam ser tirados com
colher de sopa de seus macacões de couro andando a 240 ou 250 km/h . Citaram então os
acidentes de Valentino Rossi dos quais ele saiu ileso. Eu disse que Rossi teve
sempre sorte, mas que Simoncelli não. Disse a eles que air bags e cinto de segurança são
testados a no máximo 70 km/h
e que num acidente a 150
km/h os danos na carroceria seriam tão grandes que os
mesmos seriam inúteis para salvar seus ocupantes. O macacão de couro e capacete,
seja de fibra de carbono ou kelvar ou poliuretano protegem em quedas
relativamente em baixa velocidade. Ai, um terceiro colega entrou e disse que
bateu a 240 km/h
e não havia morrido. Eu disse: você não estava de macacão de couro (ele não usa
macacão de couro, mesmo depois do acidente) e teve muita, muita sorte, só isso!
Veja que estas
discussões com colegas do WhatsApp é segregacionista. Eles se esquecem dos 95%
dos motociclistas que andam de motos 125cc. Na verdade, mesmo quem anda de 125
cc se pudesse gostaria de andar com macacão de couro Alpinestar, capacete de fibra
de carbono, luvas e botas da mesma marca, mas o que mais eles gostariam é
comprar um S 1000 RR ou uma Panigale. Agora, o fato deles andarem em 125 cc, não
devem menosprezar a segurança. É possível andar protegido com artigos mais
baratos, nacionais, sejam jaquetas, calças, capacete, bota-tênis, luvas. Se
procurar com cuidado, vai poder se proteger com bom nível de segurança. Mas, o
mais importante é não pensar que um capacete de fibra de carbono, macacão de
couro, luvas de couro com proteção metatarsal, botas duplas de motociclistas,
tornem seu usuário num Homem de Ferro. Atenção, Prudência e Bom Senso são
os melhores equipamentos de segurança de um motociclista.
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